POR UM FIO


População invade supermercado em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina na última terça-feira, dia 25/11/2008. Foto: Patrick Rodrigues

Ouve-se falar em “fúria da natureza”, e que a “natureza esta dando o troco ao homem”. Todas as concepções absurdas que ouvimos colocam o homem como “o grande dominador e perverso”, e a natureza como “um ser que sente raiva e fúria, podendo até se vingar”.

A foto se refere a uma invasão, dentre muitas, acorrida em um supermercado em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina no dia 25/11/2008, e mostra algo mais.Imaginemos as condições terríveis das pessoas que vivenciaram esta crise natural. Perderam o lar, objetos, familiares. Tudo muito úmido e sofrido. Os serviços básicos cessaram: Energia elétrica, água e esgoto, as lojas fecharam e o desespero se instalou.

Quando tudo acontecia, pessoas saqueavam lojas e supermercados e bandos se organizavam para assaltar casas e vender galões da água – que seriam distribuídos gratuitamente – por R$20,00, com a certeza de que sairiam impunes, pois o Estado dormia.Diríamos que foi experimentado um estado primitivo e desorganizado, como bem nos disse Thomas Hobbes, em seu livro Leviatã (1651). Hobbes conhece o homem como um ser naturalmente egoísta e anti-social, o Leviatã (monstro mitológico) então seria o soberano absoluto que cuidava para que os homens assinassem um contrato social e o cumprissem; contra a violência e a favor da cooperação. Esta característica de socialização é comum em animais sociais como abelhas, formigas e também no homem; embora Hobbes não considerasse o homem um animal com instinto social. Os homens, portanto, são naturalmente maus (“O homem é o lobo do homem”).Até onde vai a nossa dita humanidade? Que instintos malignos são esses, que nos permitem roubar e saquear, quando o Estado falha em monitorar nossa atividade? Poderiam dizer que a população estava saqueando, pois tinha necessidade para tal, mas se observarmos a foto acima, veremos que em um carrinho há 7 latas de achocolatado em pó e também uma TV de plasma, produtos nada essenciais a sobrevivência, não é mesmo?

Acredito que essas pessoas estavam realizando um velho sonho naquele momento (“O mundo está acabando, mas eu vou garantir minha TV de plasma”), como se a criança estivesse sozinha em casa, sem o pai para punir o menino “arteiro”.O homem não é um lobo, o homem é um homem mesmo, e isso já basta. A foto acima e as notícias sobre os saques são o retrato mais fiel de que a nossa humanidade, nossa conduto refinada e justa podem realmente estar por um fio.

2 comentários

  1. O homem tem uma “bondade” natural em si mesmo, desde que seus desejos sejam atendidos…

    em relaçao aos saques.o mais incrivel disso tudo é a ignorancia…
    será que esse povo que entrava lá p/ pegar comida nao conseguia pensar que a comida que estavam levando poderia estar totalmente estragada e improprias ao consumo , por estarem no meio daquela agua suja?
    fora, que está sendo enviada bastante ajuda, apesar daquelas vidas na maioria, estarem totalmente destruídas…

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  2. Então, acheu tragicamente interessante perceber que houveram algumas semelhanças neste episódio de no filme “ensaio sobre a cegueira”. Concordo com Fernando que sem o olhar do estado (cegueira de saramago?) o homem em desespero se mostra como não o queremos ver.

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