OS CIENTISTAS TÊM INVEJA DA IGREJA


As duas são bem parecidas

É secular a aparente disputa entre cientistas e religiosos, para que se defina “o melhor” ou “mais verdadeiro” modo de se conceber o mundo e sua origem. Muitos cientistas não aceitam essa briga e ponderam que a ciência não tem nada a ver com religião. Desde muito tempo sistemas religiosos atacaram essa velha mania humana de se tentar descobrir os mistérios da natureza por meio de algum método. Esses métodos que basicamente sistematizam a energia criativa humana inevitavelmente acabaram propondo uma nova visão de mundo (a terra redonda, o sol como centro, a terra com mais um planeta em um vasto universo e o homem como mais um organismo vivo na teia da vida). E por isso, a igreja ocidental sempre se meteu nesses assuntos, pois tais descobertas inovadoras promoviam a inevitável “morte de deus”, ou seja, o distanciamento do homem de visões místicas do mundo e de sua criação.

 

Quero dizer que ciência e religião têm algo em comum, pois as duas artes humanas buscam a mesma coisa: “A verdade”. O cientista sério nunca vai afirmar que o que ele descobriu no laboratório é “A verdade”, sempre haverá a possibilidade de essa “verdade” descoberta ser ultrapassada por outra “verdade” num momento próximo. Por isso, tratamos certas doenças de modo diferente do que tratávamos antigamente, porque novas “verdades” foram sendo descobertas o que foi mudando a maneira que a medicina lida com as doenças. A “verdade” para a ciência é momentânea e nada absoluta. A “verdade” para os sistemas religiosos são coisas eternas e não podem e nem devem ser questionadas.

E é nesse ponto que religião e ciência entram em choque, porque buscam quase a mesma coisa, mas de formas diferentes. O religioso é convicto, o cientista é angustiado pela dúvida. Nesse ponto, ciência e religião se distanciam bastante.

Recentemente foi possível copiar a vida em laboratório. Autoridades da igreja católica disseram que “a criação de uma célula sintética, pode ser um avanço positivo se usado corretamente, mas advertiu os cientistas de que apenas Deus pode criar vida”. Podemos ver que a igreja já sabe do seu lugar e não cai mais na tentação de conter a criatividade humana (como fez muitas vezes ao longo da história queimando hereges curiosos e petulantes); mas mesmo assim não deixa de pontuar que quem sabe a verdade sobre o início da vida e do mundo são eles (por meio da afirmação de que “apenas Deus pode criar vida”).

O cientista acredita no poder da racionalidade humana e do método cientifico; o religioso acredita em mitos sobre a criação. No meu ponto de vista, isso não tem muita diferença, ambos “acreditam” em algo. É tudo uma questão de gosto e ocasião. E então numa tentativa boba de defender um “clubinho”, um gueto de conhecimento, os grupos ficam trocando farpas para verem quem é que tem razão.

Os cientistas invejam o fato das religiões serem tão amplamente aceitas, sem fazerem o mínimo esforço para isso e realmente tocarem as pessoas. E por isso, criou-se a divulgação científica que faz aproximar a ciência da religião e de aspectos da cultura de massa. Uma descoberta científica é bastante valorizada como se fosse um novo ditame, uma nova regra para se viver… Como se os “10 mandamentos”, fossem atualizados a cada descoberta científica.

“Deus está morto” disse Friedrich Nietsche, mas não concordo. O que ocorreu foi que Deus não dá mais medo. Continua-se a acreditar muito em Deus, mas ele perdeu algo de sua onisciência e onipotência, não nos vigia mais, e assim estamos em crise. O homem moderno é assim mesmo: Reza para Deus lhe curar de uma doença, mas toma “religiosamente”, às 14h, o remédio indicado pelo doutor, confunde as abstrações religiosas com as científicas. Desespera-se porque ambas são… abstrações.

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TEXTO INTERESSANTE

Folha de S.P – “A fé busca o poder”,  20/6/2010

1 comentário

  1. É bastante interessante notar que o filósofo alemão em questão é particularmente conhecido por decretar o fim da religião, da moral, ou da morte de Deus, na expressão “Deus está morto!”, o que não passa de uma tão mal interpretação do próprio pensamento do “homem-dinamite”, quanto dizer “Freud explica” acerca de generalizações (im)possíveis sobre o pensamento psicanalítico. Expressões de manteiga e farinha! haha

    Curti o texto Nando! Abraço

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