O mal do século é o Augusto Cury


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Ele vende muitos livros de autoajuda e figura na Revista Veja entre os mais vendidos já há muito tempo.  O novo (nem tão novo assim, é de dezembro de 2013) livro de Cury chama-se “Ansiedade: como enfrentar o mal do século?”

Ele pega esta palavra muito comum no nosso cotidiano “ansiedade” e a transforma numa tal “Síndrome do Pensamento Acelerado” que é “ocasionada pelo excesso de informações, excesso de atividades e excesso de preocupações.”

Todas as elucubrações de Cury, estão presentes numa certa “Teoria da Inteligência Multifocal” que não é teoria, não tem referência bibliográfica (ou seja não é fruto de pesquisa cientifica séria em que outros autores são consultados e citados) e tão pouco não nos é apresentada a metodologia clínica que o autor utiliza para conseguir dados, discutí-los e montar um corpo teórico.

Então, ouvimos da boca de Cury a seguinte pérola:

“Se nós formos olhar para a síndrome do pensamento acelerado vemos que ela atinge quantidades absurdas … 70, 80 ou mais por cento (sic) da população em geral”.

Frases sem o mínimo fundamento e totalmente deselegantes são muito frequentes na fala e escrita do autor.

“Mais por cento.” Talvez isso seja matemática avançada que só o Sr. Cury entende?

Ele utiliza uma tática simples.

Primeiro, o autor assume que a ansiedade e não a depressão é o mal do século. Segundo, cria uma nova patologia, mostrando que o mundo cientifico estava errado. Para isso, cita que depois que “desenvolveu o bojo a estrutura de uma nova teoria sobre o funcionamento da mente, teoria esta que é objeto de doutorados e mestrados internacionais, ficou claro que o mal do século é a ansiedade. Mas um tipo especial de ansiedade que ele teve o privilégio de descobrir: a síndrome do pensamento acelerado. O problema é que em um busca pela internet e por revista cientificas, não consta nada sobre tal teoria. Em terceiro lugar, oferece técnicas para desacelerar o pensamento como: “Não ser o agiota da emoção” e “fazer a mesa redonda do eu (para resgatar a liderança do eu para que ele volte a ser autor da própria historia).” Assim, a pessoa vai conseguir “gerir sua mente com maestria e dar um choque de lucidez para que ela possa ter uma emoção saudável, uma mente brilhante e criativa”. Novamente, sem reconhecimento ou validade científica.

Mas então. Só é valido aquilo que tem o “selo de aprovação da ciência”? Acho que não. As religiões por exemplo são sistemas de pensamento totalmente válidos para o que se propõem, mas apenas não são pensamentos científicos.

Penso, neste ponto, que ele mereceria o Prêmio Nobel de Medicina.

Agora, explicando o titulo do meu texto que pode parecer agressivo a priori. Quero deixar claro que não é nada pessoal e sim uma análise do que representa, ao meu ver, este tipo de literatura, “ciência” ou dogma.

Há  sim males que temos o desprazer de conviver. Um deles é a arrogância científica. Sempre há alguém, geralmente um “doutor que não fez doutorado” que sabe o que diz e faz. Esse “doutor” sabe quem somos e sabe o que poderíamos fazer para no livrar da dores da vida, e, normalmente, essa solução é vendida à um preço um pouco alto. Do alto do patamar da arrogância, há a diminuição do ser humano em frases prontas e fórmulas que nunca dão certo. A ideia de que existe alguém que sabe muito mais sobre nós do que nós mesmos, produz escravos e senhores. Escravos que se submetem a qualquer coisa e senhores que cobram o preço por cada chicotada. Essa submissão causa a ansiedade. E essa busca desenfreada por respostas rápidas sobre si mesmo causa ansiedade. Essa arrogância científica produz ao mesmo tempo, o empobrecimento do pensamento das pessoas, mais ansiedade e o fim da divulgação da ciências psicológicas.

Um outro mal do século que posso citar é a utilização da ciência para a promoção do absurdo.  A ciência não oferece a cura para todos os males, não é absoluta e não deve ser utilizada como uma religião. A ciência não deve ser dogmática. Interessante notar que Cury utiliza essa tática ao informar que tudo que diz é fruto de intensa pesquisa internacional. Tudo para você se convencer que tudo que Dr. Cury diz é verdade e tem alto valor explicativo. Se você quer respostas 100% definitivas sobre qualquer assunto, busque as religiões e não a ciência ou psicoterapias com base científica. A ciência traz angústia, traz discussão, traz incertezas e sobretudo um caminho para se chegar à uma suposta verdade… e não à uma verdade inquestionável.

Acho que o Sr. Cury ou sua obra representam muito bem esses dois males modernos. Não vejo problema no Sr. Cury vender livros e oferecer regras para quem as deseja. O problema está em alguém se colocar como aquele que vai dizer sobre o que as pessoas são; e  outro problema é utilizar a ciência como elemento valorativo para frases de efeito sem embasamento e sem método algum. Os cientistas ficam bravos com isso, pois sabem o trabalho que tem para embasar suas assertivas.

Seria mais interessante se Cury abandonasse essa pretensão de ser um cientista e se assumisse como um escritor bem intencionado ou que montasse sua própria igreja.

ATUALIZAÇÃO EM 21/7/2015

Mais ou menos na mesma época em que publiquei este texto em fins de 2014, tinha acabado de sair o resultado de uma ação do Ministério Publico contra o IDERC / UNIDERC, instituição de ensino que outorgou o título de “Dr” ao Augusto Cury em 2012. (http://www.portalfolha.com/gerais/uniderc-outorga-titulo-academico-de-doutor-a-augusto-cury).

A Ação foi movida pelo procurador da República Luiz Antonio Miranda Amorim Silva pedindo a suspensão temporária dos cursos de graduação em educação física, administração, serviço social, teologia e pedagogia devido à falta de autorização do Ministério da Educação. (http://mpf.jusbrasil.com.br/noticias/136827420/mpf-pe-obtem-liminar-que-suspende-curso-superior-irregular-em-caruaru)

  • Aqui um texto que saiu na Revista Veja sobre Sr. Cury bem interessante. Um mestre da imodéstia Com suas frases simplórias e doidices “científicas”, o psiquiatra Augusto Cury tornou-se um best-seller da auto-ajuda (http://veja.abril.com.br/110106/p_106.html )

E aqui um video

24 comentários

  1. Professor Felipe, parabéns pelo texto.
    Embora, a primeira vista, o título seja um tanto assustador, ele é fiel a realidade, afinal, inverdades científicas são popularizadas através de tais best-sellers e a aceitação e disseminação de tal conteúdo por milhares de pessoas é sim um grande mal do século.

    Há alguns anos comprei um livro deste autor, O código da inteligência. Acreditei que haveria alguma revelação científica, algo realmente inovador, técnicas, embasamento, mas para minha total decepção tudo que havia ali eram frases e expressões emocionalistas, com aquele fundo religioso característico de Cury. De lá pra cá fiquei realmente avessa aos livros deste autor.
    Infelizmente nem todo mundo anda com o desconfiômetro ligado, a maioria tem uma grande tendência a acreditar em expressões de impacto, como foi mencionado no texto.
    Ler é ótimo, mas saber o que ler é fundamental.

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  2. Ótima discussão!
    Também pensei – porque não a depressão ? – quando eu li o título do livro: “Ansiedade como enfrentar o mal do século”. Não li esse livro, mas fiquei curiosa para tentar entender da onde ele tirou essa afirmação…
    Essa onda de querer ganhar dinheiro vendendo fórmulas prontas para combater a ansiedade, procrastinação, depressão e afins com “base científica”, aumentou muito, na internet sempre vejo propaganda com cursos sobre isso, vendida por “especialistas” com o discurso que encontraram a missão de suas vida, de querer ajudar os outros, no entanto, cobram por isso – e não é barato!

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      1. Esse Augusto Cury é igual ao porquinho prático do desenho,se fosse um garambel não tirava nem pro fumo com as mulheres,que homem + feio e ridiculo.

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  3. Puro engodo. O “Dr” Augusto é psiquiatra, se autodeclara cientista e pesquisador na área da psicologia, mesmo sem pesquisa científica validada e usa todos esses títulos na sua retórica de escritor…

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  4. Os links que o autor desse texto colocou na publicação não são refere a qualquer notícia relacionada ao Augusto Cury

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  5. Sou leitor de Augusto Cury e seus livros tem me ajudado muito na área de conhecimento aplicado . Penso que tudo que acima está escrito nesta columa, só se pode denominar, INVEJA.

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      1. Pessoal que não aprofunda pensamento é craque em falar frases e palavras de efeito. Afe.

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  6. Só porque um autor não segue uma metodologia científica, isto não quer dizer que não pode ser bom no que escreve, correto? A filosofia inclusive tem o seu valor, pois ela serve para nos alertar. Imagine se todos nós só pudesse expor o que fosse comprovado cientificamente. Pense na imensa quantidade de livros reveladores que seria proibida! Pense no tanto de verdades que seriam ocultas. ´Não devemos nos esquecer que até a mentira pode ser protegida pela prova.

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  7. Abomino esse tipo de literatura, mas o intrigante é que realmente funciona para algumas pessoas. Agora, o que realmente me preocupa é ver profissionais de saúde mental usando Cury como referência (sim, já vi isso acontecer)

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  8. Comecei ler um dos livros do Augusto Cury, logo de cara me deu um certa impressão que ele queria vender algo que não curava nada, resultado parei na quinta página, justamente por conta de referência que ele faz a si próprio, como um ser mais inteligente que outros.

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    1. Recebi um livro desse autor essa semana, da escola do meu filho, com a promessa de Programa Escola de Inteligência, imediatamente comecei a leitura, ávida por saber como ajudar esses retorno às aulas pós pândemico, não consegui passar na 10° página. É um tanto rebuscado no escrever, talvez mesmo com a intenção de impressionar, mas é massivo, chato, e extremamente repetitivo, sem embasamento, nem citações, nem exemplos simples de fazer o leitor se identificar… Então pensei: será que a internet toda, ídolatra esse cara e só eu odiei???
      Feliz de ter chegado aqui!

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  9. As críticas à Augusto Cury são válidas. Porém, ele concluiu seu doutorado em 2013 pela Florida Christian University (Universidade Cristã da Flórida), portanto Augusto é sim um doutor. As técnicas de gestão emocional desenvolvidas por Cury tem ajudado milhares de pessoas e também são eficientes. Como o próprio Augusto diz: “Não devemos comprar aquilo que não nos pertence, críticas, ofensas, injúrias, calúnias são lixos! A nossa paz vale ouro, o resto é irrelevante”. Decerto as críticas lançadas a Augusto ocorrem devido ao seu sucesso no Brasil.

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    1. José, vc confunde critica fundamentada em uma simples pesquisa na internet com inveja.. alias como vários outros leitores de Cury que comentam por aqui. Não se pode criticar ou apontar questões para deuses e mitos?

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